Como a TV e o Cinema Elegeram e Não Elegeram Barack Obama e Hillary Clinton

Conversando com minha amiga Célia Tahan, logo após o resultado das eleições norte-americanas, o assunto inevitável apareceu: os seriados 24 horas e Commander-in-Chief. Ela havia dito que ambas as séries foram visionárias (não exatamente com estas palavras) ao apresentar, respectivamente, um candidato negro à presidência, que chega lá, e uma presidente mulher. Resolvi pesquisar se era isto mesmo e descobri que nem uma série nem outra foram pioneiras em apresentar um/a candidato/a ou presidente negro/mulher nos Estados Unidos.

Dennis Haysbert, abaixo, o presidente David Palmer, da série 24 Horas / Foto: divulgação Fox, via Fora de Série
Pelo menos 11 produções já tiveram um presidente negro, indo desde a comédia, até filmes-catástrofe, passando pelo drama e outros gêneros, na TV e no cinema. Entre os atores, destacam-se Chris Rock, Morgan Freeman e James Earl Jones. Este é mais conhecido por ter feito a voz de Darth Vader, na saga Guerra nas Estrelas, e foi justamente ele que protagonizou o primeiro filme considerado sério em que um negro era presidente dos Estados Unidos: não por acaso o título era O Presidente Negro (The Man - 1972)(em inglês).


Abaixo, Geena Davis e o ótimo elenco de Commander in Chief  / Foto: divulgação ABC, via Give me My Remot (em inglês)
Pelo lado feminino, foi mais difícil encontrar, mas tá aí: pelo menos 12 atrizes já encarnaram presidentas dos EUA (em inglês), na telona e na telinha. Destacam-se Geena Davis, Glen Close e Ernestine Barrier - a primeira, no filme de ficção Project Moonbase (1953)(em inglês).


Isto significa que o cinema e a TV fizeram a cabeça das pessoas para que elas votassem no Barack ou na Hillary? Sim... e não.

Afinal, fizeram ou não fizeram?
No sentido em que cada uma destas produções escolheu deliberadamente um negro ou uma mulher com o intuito específico de fazer as pessoas verem com bons olhos presidentes negros ou mulheres, não. Ou pelo menos esta não era a idéia principal da escolha. Os norte-americanos são muito pragmáticos e não colocariam coisas "diferentes" em suas produções apenas (e eu disse apenas) para serem politicamente corretos. Time is money!

Mas, a partir do momento em que mulheres e negros representam, bem, o mais alto cargo da nação, sim, a TV e o cinema fizeram a cabeça das pessoas. Só que não para que elas votassem especificamente em Barack Obama ou na Hillary Clinton, ou no próximo candidato mulher/negro que aparecesse. Foi no sentido em que se acostumassem à idéia de ter um afro-descendente ou uma mulher à frente da Casa Branca.

Junte-se a isto, a mística envolvendo importantes personalidades relacionadas às questões raciais e feministas/femininas - como Martin L. King, Nelson Mandela, Indira Gandhi, Oprah Winfrey -, o papel de outras áreas da comunicação, especialmente do jornalismo, e das artes na estruturação de um pensamento favorável a mulheres/negros no poder, e o próprio fato de estas pessoas estarem se destacando cada vez mais no mercado de trabalho. Pronto: era mais do que previsível que, mais dia, menos dia, o inevitável aconteceria.

Só há um detalhe que as pessoas não levam em consideração: o quanto os Estados Unidos estão atrasados neste quesito. Sua nação-mãe, a Inglaterra, teve uma (super) primeira-ministra ainda na década de 80 e a África do Sul, cujo apartheid foi mais intenso e vigorou mais tempo que nos EUA, já elegeu seu presidente negro.




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